quinta-feira, 30 de outubro de 2008

A artrite reumatóide e a obesidade

Novo estudo apresenta dados alarmantes sobre mulheres portadoras de artrite reumatóide e a obesidade

Os pesquisadores de Johns Hopkins University School of Medicine, em Baltimore, Marylande, divulgaram em julho os resultados de uma pesquisa sobre artrite reumatóide. Os dados apontam que mulheres com artrite reumatóide têm maior probabilidade de ter uma distribuição anormal de gordura corporal, especialmente aquelas de peso normal e IMC (Índice de Massa Corporal), em comparação a homens com artrite e mulheres sem artrite.

Segundo o Dr. Jon T. Gilles, um dos responsáveis pela pesquisa, foi estudada a composição corporal de 189 homens e mulheres com artrite reumatóide e 189 controle pareados para idade e sexo. Os testes mostraram que portadoras de artrite reumatóide, provavelmente, terão mais chances de perder massa muscular adbominal do que os homens estudados. Esse aumento de gordura corporal combinado com diminuição de massa muscular é chamado de sarcopenia da obesidade.

Mas, a informação que chama atenção nessa pesquisa é sobre os pacientes que não receberam correctamente o tratamento para artrite reumatóide com as drogas modificadoras do curso da doença, possuem mais deformidades e altos índices de inflamação, desenvolverão uma distribuição anormal de gordura corporal, ou seja, ficarão mais gordos. Esse dado é alarmante porque actualmente existem novos métodos para diagnosticar precocemente a doença.

Além dos exames, também estão disponíveis no mercado, novas opções para o tratamento medicamentoso que actuam directamente nas substâncias que causam a inflamação, bem como nas células que produzem estas substâncias.

Actualmente, os pacientes com artrite reumatóide, que não respondem a outras terapias convencionais, contam com a Terapia Biológica que auxilia no combate a doença prevenindo a evolução e destruição articular.

Essas drogas agem biologicamente nos mediadores inflamatórios, particularmente no TNF-alfa. É o caso do Rituximabe (MabThare®), eficaz tanto na diminuição dos sintomas da doença quanto no controle do aparecimento de novos desgastes articulares.

O Abatacept (Orencia®), uma droga que bloqueia a acção do linfócito T aprovado pelo FDA. Reduz os sinais e os sintomas da artrite, induzindo a resposta clínica principal, retardando a progressão dos danos estruturais, e melhorando a função física nos pacientes do adulto.

Outra novidade é o Tocilizumabe (Actemra) é o primeiro de uma nova classe de medicamentos que inibe a acção da interleucina 6 (IL-6), uma substância produzida em excesso pelos pacientes com artrite reumatóide. A produção anormal da IL-6 é nesses pacientes é uma das responsáveis pela inflamação crónica e destruição progressiva das articulações. Segundo a pesquisa apresentada durante o Eular 2007, os três fármacos diminuem os sintomas da AR e melhoram as funções físicas e a condição de saúde do paciente, ao mesmo tempo em que retardam a progressão dos danos nas articulações.

O Tocilizumabe já foi submetido para aprovação também nos EUA e no Brasil, onde o seu lançamento está previsto para 2009. O Japão foi o primeiro país a aprovar o uso do medicamento tolicizumabe para tratamento da artrite reumatóide (em abril de 2008).

“É importante consciencializar a população para que procure sempre um médico aos primeiros sintomas da doença, antes de recorrer à qualquer tipo de auto-medicação. O diagnóstico precoce torna o tratamento medicamentoso mais eficiente, especialmente em relação aos fármacos que modificam o curso da artrite reumatóide”, afirmam Dra. Evelin e Dr. José Goldenberg.

Fonte: www.clinicagoldenberg.com.br

A gravidez na Artrite Reumatóide

As doenças reumáticas, principalmente as doenças inflamatórias crónicas do tecido conjuntivo, caracterizam-se pelo predomínio do sexo feminino e início em idade jovem. A Artrite Idiopática Juvenil é um exemplo destas doenças, mas outras também se podem iniciar numa idade fértil, tais como o Lúpus Eritematoso Sistémico, a Artrite Reumatóide, a Esclerodermia e a Dermatomiosite.

Estas jovens mulheres, por vezes exprimem a sua preocupação em relação a três aspectos: a fertilidade, a influência da gravidez na sua doença e a influência da doença e o tratamento na evolução da gravidez e no feto. Estes aspectos são, em seguida, discutidos de forma sucinta.


Fertilidade

As várias doenças reumáticas não afectam a fertilidade das jovens portadoras. Nos EUA, realizou-se um estudo em que os autores verificaram que 1/3 das mulheres com Artrite Idiopática Juvenil têm filhos por volta dos 20 anos, idade sobreponível à observada na população em geral.

Alguns fármacos utilizados no controle da doença podem interferir com a fertilidade. O principal exemplo é a ciclofosfamida. A insuficiência ovárica precoce tem sido descrita em 27 a 41 % das mulheres submetidas a este tratamento. Os factores de risco são a idade de início do tratamento, a dose cumulativa e o grau de supressão medular. A sulfassalazina pode provocar oligospermia no jovem submetido a este tratamento, mas é reversível logo após a sua interrupção.

Muitos dos aspectos reprodutivos estão dependentes da acção de prostaglandinas. O uso de anti-inflamatórios não esteróides no modelo animal induz infertilidade. Na literatura médica há alguns casos descritos de distúrbios da fertilidade relacionados com o uso de piroxicam, naproxeno e diclofenac. Estes desaparecem com a descontinuação do anti-inflamatório não esteróide. O uso de inibidores da COX-2 determina igualmente infertilidade, a qual é reversível após a sua suspensão.


Influência da gravidez na doença

A exacerbação da doença durante a gravidez é uma questão difícil de responder. Isto porque cada doente é um doente e cada doença tem o seu comportamento típico.

Antes de falar do comportamento da doença reumática durante a gravidez é importante relembrar que a gravidez induz alterações no corpo da mulher as quais permitem o desenvolvimento de um novo ser vivo, sem que ocorra um fenómeno de rejeição. Estas alterações são múltiplas, incluindo hormonais e imunitárias.

Cerca de 70% das mulheres com Artrite Reumatóide referem melhoria da artrite durante a gravidez. Esta se inicia durante o 1º trimestre e mantém-se durante toda a gravidez. Há por vezes remissão completa dos sintomas. Todavia a evolução pode ser flutuante e por vezes há necessidade de usar analgésico para alivio sintomático. Em mais de metade dos casos há recidiva no período pós-parto, nas oito semanas seguintes. Esta recidiva não é influenciada pela amamentação. Embora o grau de inflamação possa ser mais grave, comparativamente ao existente antes da gravidez, na maioria dos casos o quadro clínico é idêntico ao anterior. A doença tem um comportamento idêntico, em próximas gestações.


Influência da doença na gravidez

Durante a gravidez podem surgir complicações maternas, tais como: hipertensão gestacional, pré-eclâmpsia, s. Hellp. Na mulher com doença reumática

Na Artrite Reumatóide, na Artrite Idiopática Juvenil, nas Espondilartropatias, a evolução da gravidez é favorável, não havendo maior risco de complicações maternas comparativamente à população em geral. O compromisso grave das articulações coxo-femurais ou a existência de prótese articular poderá inviabilizar o parto por via vaginal, sendo necessário realizar uma cesariana.

Nestas jovens, principalmente na Artrite Idiopática Juvenil de início poliarticular ou sistémico e na Artrite Reumatóide, o compromisso da coluna cervical pode dificultar a realização de entubação oro-traqueal, no contexto de uma anestesia geral. Mas, todos estes problemas devem ser equacionados previamente à concepção, para se escolherem as melhores abordagem terapêuticas. Actualmente, muitas das cesarianas efectuam-se sob anestesia epidural, não havendo necessidade de recorrer à anestesia geral.


Influência da doença na gravidez - evolução fetal

Durante a gravidez podem surgir complicações fetais: aborto espontâneo, aborto tardio, nado-morto, atraso crescimento intra-uterino, prematuridade, malformações fetais e Lupus Neonatal.

Alguns estudos sugerem um aumento ligeiro da frequência de perdas fetais (aborto espontâneo, aborto tardio, nado-morto) na Artrite Reumatóide e na Artrite Idiopática Juvenil. No entanto, esta conclusão não é consensual. Deste modo, vários autores concluem que estas doenças não determinam complicações fetais.


Fármacos e a gravidez

Durante muitas das gestações de mulheres com doenças reumáticas há necessidade de usar fármacos para controlo da doença. É óbvio que por vezes surjam dúvidas em relação à sua continuação durante a gravidez, pelos eventuais riscos fetais.

Os anti-inflamatórios não esteróides (AINE’s) são os fármacos mais usados na prática clínica do reumatologista. Em experimentação animal está descrito um possível efeito teratogénico, que não tem sido referido na prática clínica. O seu uso não é isento de riscos, devido à sua acção na inibição da síntese das prostaglandinas, o qual pode determinar o encerramento precoce do canal arterioso, com persistência da circulação fetal, o prolongamento do tempo de gestação e do trabalho de parto. Há ainda o risco de hemorragia fetal e materna pela sua acção na função plaquetária. Deste modo, o seu uso deverá ser interrompido no último trimestre.

Os corticosteróides usados desde hà muitos anos, não se acompanham de malformações fetais. No entanto, está descrita a ocorrência de fenda palatina e lábio leporino no modelo animal. Na prática clínica não tem sido descrito quadros anómalos. O corticosteróide mais utilizado é a prednisolona. Este esteróide é metabolizado pela 11β dehidrogenase placentária no seu metabolito inactivo, não passando a barreira utero-placentária. Quando se pretende usar um corticosteróide que atravesse a barreira utero-placentária a escolha recai na dexametasona. O lupus neonatal com compromisso cardíaco é um exemplo desta situação. À autores que preconizam a monitorização da função da supra-renal e a exclusão de infecção em todo o recém-nascido cuja mãe esteve sob corticoterapia durante a gravidez. Na maioria das situações reumatológicas esta atitude é desnecessária, pois as doses efectuadas são de 5 a 10 mg por dia e sob esta dose não há aumento da incidência destas complicações na criança. Durante a gravidez a artrite pode ser controlada com corticosteróides administrados por via intra-articular.

Em experimentação animal o uso de sais de ouro associou-se a malformações do sistema nervoso central. Os estudos retrospectivos publicados não demonstram um aumento da incidência de malformações fetais. No entanto o seu uso deverá ser evitado porque atravessa a placenta.

A sulfassalazina atravessa a placenta, mas não parece determinar um aumento da incidência de anomalias fetais, pelo que o seu uso durante a gravidez pode ocorrer. No entanto, a melhoria clinica observada durante a gravidez nas mulheres com Artrite Reumatóide e Artrite Idiopática Juvenil pode permitir a sua suspensão.

Os imunossupressores estão contra-indicados durante a gravidez, nomeadamente a ciclofosfamida, o clorambucil, o metotrexato, a leflunomida, a D-penicilamina e a ciclosporina. O metotrexato é teratogénico e deve ser interrompido 3 a 6 meses antes da concepção. Durante este período a jovem mulher deve fazer um suplemento de ácido fólico para prevenir os defeitos do tubo neural. A azatioprina é um imunossupressor usado há muitos anos em algumas doenças reumáticas e que deve ser evitado. Este medicamento interfere na síntese das purinas e o seu uso pode associar-se com malformações congénitas, cromossómicas e distúrbios imunitários graves. Todavia, os estudos que analisaram o seu uso durante a gravidez não demonstram um aumento da incidência de malformações congénitas. Nestes estudos não foi avaliada a sua possível acção no sistema reprodutivo e no aumento da incidência de neoplasias.


Amamentação e doenças reumáticas

Os fármacos usados no tratamento das doenças reumáticas são excretados para o leite materno e daí alguns cuidados devam ser tomados para evitar a exposição do recém-nascido a estes medicamentos. Os medicamentos passam para o leite materno por difusão passiva, mas vários factores interferem neste processo: concentração sanguínea, solubilidade lípidica, grau de ionização e ligação às proteínas do leite.

Na escolha do AINE’s devemos ter em atenção a sua semi-vida e optar por aquele com um semi-vida mais curta, por exemplo o ibuprofeno. O diclofenac tem uma semi-vida curta mas o seu metabolito activo tem uma semi-vida longa. O AINE’s deve ser tomado no início da amamentação, assumindo que cada mamada tem uma duração de 20 minutos e que a próxima mamada será ao fim de 4 horas. Deste modo a criança fica exposta a uma dose mínima do fármaco.

O uso de corticosteróides é permitido desde que se escolha a prednisona, numa dose de 5 a 10 mg por dia. Doses superiores devem ser evitadas, pois a criança vai ter as complicações inerentes a esta terapêutica.

A sulfassalazina deve ser usada com precaução, apesar de excretada em pequena concentração. A sua ligação às proteínas poderá interferir com o metabolismo da bilirrubina. O seu metabolito, a sulfapiridina, é excretado no leite materno numa elevada concentração, mas ao contrário da sulfassalazina não interfere na ligação da bilirrubina às proteínas.
Os sais de ouro administrados por via intramuscular apesar de serem excretados no leite materno, cerca de 20% da dose, não são absorvidos pela criança. Mas têm sido descritos complicações na criança, daí devam ser evitados.

A D-penicilamina está contra-indicada. O metotrexato é detectado em pequenas quantidades no leite materno, mas não está indicado o seu uso durante a amamentação pelo risco de se desenvolver na criança várias complicações: imunossupressão, mielossupressão, distúrbios do crescimento e neoplasias. A mesma atitude se recomenda em relação à azatioprina.


Conclusão

A monitorização e vigilância periódica das grávidas com doença reumática, com intervenção atempada contribui para uma melhor evolução fetal e materna que se tem assistido nos últimos anos.

A gravidez nestas mulheres não deve ser desencorajada. Todavia a concepção deve ocorrer durante um período de remissão clínica.

Os recém-nascidos são tão saudáveis como as outras crianças, com a mesma idade gestacional e peso, não estando descrita uma maior percentagem de anomalias congénitas.

É importante não esquecer que uma criança requer muitos cuidados os quais podem aumentar o cansaço e a dor articular subjacente à doença reumática.
Uns períodos de repouso adicional e a ajuda de terceiros ajudam a ultrapassar este obstáculo.

Autora: Drª Maria Manuela Costa - reumatologista
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